segunda-feira, 30 de novembro de 2009

A Última Carta Que Nunca Foi Entregue

Ei,
As coisas desandaram né? Quem poderia imaginar?
De todas as coisas ruins que imaginei acontecer, essa nunca passou por minha mente.
Fazia algum tempo que não tínhamos boas conversas. Tenho a impressão de que você estava um pouco decepcionado comigo, e eu consigo imaginar o porquê.
Estávamos tão distantes esse último ano, na verdade ano passado também. Se eu soubesse de tudo que se sucederia eu realmente teria me aproximado o máximo possível. Mas não adianta lamentações o passado está escrito, e não pode ser editado. O problema é que esse erro também não pode ser concertado e isso me dói mais.
Eu parei de me perguntar por que e passei a aceitar os fatos. Ajudou-me a melhorar. Mas ainda me dói lembrar dos melhores anos de minha vida, aqueles que tive você e outras pessoas importantes ao meu lado. Anos que me fizeram enxergar o mundo de outra maneira, anos que amei intensamente os meus, anos que serão referencia por muito tempo em minha memória, assim como sempre nos lembramos de nossa infância (seja ela sofrida ou maravilhosa).
Meu Amigo, o maior que já tive, o que eu achei que levaria para sempre, quem diria?
Naqueles momentos de porre eu sempre dizia que o amava. Disse algumas vezes sóbrio e me arrependo de não te-lo feito mais. Me lembro da vez que você disse o mesmo, ainda que timidamente e por trás de toda a barreira que você erguia para esconder quem você era de verdade. Foi assistindo a bruxa de Blair e por algum motivo eu disse : “ta, eu sei que você me odeia”. E você replicou : “O ódio é também uma forma de amor”, frase que agente citava com freqüência naquela época, porque sempre odiávamos tudo. Mas ainda sim me arrependo de nunca ter te dado um abraço, de nunca ter investido mais contra o muro de proteção de ter-te descoberto mais.
Você sempre me divertia tanto. Irritava-me também quando perdia o limite nas brincadeira (mas eu daria tudo pra ser irritado só mais uma única vez). Um dia agente sentou na calçada em frente lá de casa e eu disse que estava me apaixonando por uma garota que eu estava saindo, que apelidamos de curinguinha por causa do sorriso. Foi totalmente inesperado o jeito como conversamos, era um você que eu não conhecia, aquele Savio que ficava atrás do muro de proteção, que saudade.
Eu mudei de cidade pela primeira vez e tive vontade de voltar a todo momento, só por causa de vocês. Eu voltei, mas acho que foi ali que começou o distanciamento. Não que tenha sido causado propositalmente, mas aconteceu. Depois eu me mudei de novo, e de novo... e comecei a mudar por dentro. Se antes já empurrava a vida com a barriga, passei a empurrar mais. Só pensava no futuro e me esqueci do presente e dos presentes que eu estava deixando ali. Protelava, procrastinava e sempre pensando que depois as coisas seriam resolvidas. Já dizia o ditado “o futuro a Deus pertence”, não dá pra planeja-lo. E eu planejei tanto e dei importância a coisas tão pequenas que acabei empurrando as grande pro futuro... mas o futuro é uma caixinha de surpresas e no nosso caso a caixinha foi a verdadeira caixa de pandora. Ah meu amigo, que saudade.
Quando finalmente peguei um numero de celular daqui, te mandei uma mensagem que dizia exatamente: “Ei, é o dudu. Só pra passar meu cel novo. Não q seja um bom negócio, afinal quando eu ligar você vai saber que sou eu e vai me ignorar ;)”. Bom não adianta mais eu ligar porque não será mais sua voz que eu vou ouvir do outro lado da linha. Que mania você tinha de ignorar as ligações, me lembro de quando você detestava usar celular, não atendia por nada.
Eu prolonguei minha visita, pensei até em ir ai e não te ver. Fui para outro lugar e foi quando eu recebi a notícia. Não conseguia acreditar, não podia ser possível. Entrei em choque, depois veio o pânico e o pranto. O pior preso em Teresópolis sem ter como te ver pela ultima vez. Sem poder me despedir. As lembranças tomaram conta da minha mente. E eu só conseguia chorar. Foi nesse momento que idealizei essa carta, lembrando-me dos momentos em que nos comunicávamos dessa forma. Mas não conseguia escrever. Hoje já faz uma semana desse dia e a ficha ainda não caiu. A sensação de que tenho é que posso pegar o telefone e ligar pra você. Oxalá eu pudesse.
As lagrimas cessaram um pouco, embora nesse momento elas tenham rolado timidamente perto do manancial que foram outrora. Eu consegui aceitar os fatos, mudei minha atitude mas ainda me sinto desolado.
É meu amigo, a única forma que consegui de me despedir foi através dessa carta. A última carta que nunca foi entregue, e nunca será. Você se foi e levou um pedaço de mim junto com você, não só de mim, mas de muitos que te amavam (e quantos são esses!). Poderia prolongar-me pra sempre aqui e ainda restaria o que escrever. Foram os 4 anos mais intensos da minha vida. Amei como jamais amarei, vivi como jamais viverei, ri, chorei, brinquei e sofri como talvez jamais aconteça novamente.
Quero que saiba, onde quer que estiver ( e de acordo com o que creio você está em um excelente lugar olhando por todos nós que aqui ficamos) que eu sempre amarei você e nunca me esquecerei de tudo que significou pra mim.
Descanse em paz
Do sempre amigo
Dudu – Kunstler G. Kártica – .

Ps. Morganatiko Meggallok, o melhor amigo que um trouxa poderia ter.

My Personality in "LOST"